quarta-feira, julho 27

Afinal somos Homens ou ratos...



Como Benfiquista de nascença e como Português por acaso geográfico, sempre dei valor aos ditados populares, até porque a experiência empírica de ser Benfiquista provou que o senso comum é muito forte, ou não fossemos o clube do Povo. Ora juntando 1 mais 1 cheguei depressa a uma certeza, "Os ratos são os primeiros a abandonar o navio."

Ora, onde fico eu neste quadro (o da imagem de cima)? Fico claramente no navio, rodeado de outros Homens mas de certo de outros tantos ratos. É de facto um pouco arriscado, até porque esses ratos imaginem tem permissão de alguns homens para lá estar, para serem inclusive tripulação deste navio, navio que em tempos foi uma força da natureza, por vezes mais forte que o próprio vento (derrubava tudo à sua frente). O problema foi quando começaram a mudar a tripulação, os donos da embarcação em terra (colhendo apenas os frutos da faina), esquecendo que era preciso supervisionar o trabalho da tripulação, cuidar do barco, tapar buracos, lavar o barco e claro, cuidar dos tripulantes mais velhos e que por ordem da natureza perderam as forças para remar...foram desistindo de navegar para passar a lamentar as saídas do navio...

Hoje o navio perdeu força, mudou a imagem, apostou no luxo, na diferenciação de estatutos, na profissionalização dos tripulantes, imaginem vocês que até podiam ter trabalhado noutros navios, os que antes competiam com o nosso...por vezes de forma pouco digna...até esses com o currículo certo (houve tempos em que a palavra Benfiquista chegava para ajudar, fosse na cozinha ou no convés.) podem hoje ser tripulantes do navio. Hoje vemos o navio a navegar sem rumo, ou melhor, com rumo definido...de encontro a um icebergue que apesar de enorme, muitos continuam a negar a sua existência.

Ora é aqui que eu entro no quadro, na historia ou no proverbio português, eu vou ficar no barco, infelizmente tenho de pagar para ter acesso ao navio, porque o meu amor pelo navio, pelo mar e pela navegação não chega. Além disso pago ainda para ter um sitiozinho perto da casa das maquinas (um pouco quente e mal cheirosa, sem agua potável), mas é a única forma que encontrei para continuar perto do meu amor, o Navio... e ver de perto o que resta do velho mas Glorioso navio... por vezes à noite, depois de mais uma tempestade (hoje são mais frequentes do que outrora), vejo-me a olhar para a velha ancora que já não é utilizada, dizem que é velha e não corresponde aos padrões de imagem actual, e eu que sempre pensei que uma ancora era para segurar o barco, apenas isso... outras vezes olho para uma parte do navio que sempre me deixou com lágrimas nos olhos, o velho casco, com cor uniforme, todo vermelho, lindo...lindo de morrer... uma cor forte, uma textura simples, um emblema com historia, e uma sigla simples (SLB), e claro a mascote do navio por cima...a linda águia...

No outro dia, depois de mais uma época de faina deplorável, onde se gastou tanto em rede, em mantimentos, em roupa nova, em instrumentos novos, pescamos pouco mais que nada... tive ainda a vergonha de ver que os nosso colegas da tripulação (os que ficam nos melhores camaratas) chegaram a terra, e com o ar mais natural do mundo desceram do navio, distribuíram as miseras caixas de peixe (insuficiente para tanta população) com um sorriso cínico e seguiram de carro para suas casas sem uma explicação... com um apenas "para a próxima vai correr melhor", como se isso alimentasse a fome destas famílias e famílias de pescadores e não pescadores.

Por tudo isto e porque acredito que reunindo alguns dos velhos e reformados pescadores com os novos e fogosos (desejosos de ver de novo o navio a furar ondas e a conquistar os oceanos) aspirantes podemos ter de novo o velho (porque o numero de anos também significa muito) navio, com a velha mas forte ancora, com o pesado mas sentido casco, e claro com a tripulação impulsiva, irreverente, louca...mas verdadeira família em torno do seu amor, o Navio.

Portanto e resumindo...não quero ser mais um rato... e admito que quero juntamente com outros recuperar o barco deste comandante que mais tarde ou mais cedo vai afundar o nosso navio.

O BENFICA É NOSSO.

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